Pesquisar este blog

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Introdução sobre Maquiavel

Enciclopédia Delta Universal
Escultura de Maquiavel feita por Lorenzo Bartolini
 
“Old Nick” é como os ingleses chamam o diabo. 
A origem dessa expressão popular está no nome e na fama de Niccolò Maquiavel. Apesar de ter vivido e desenvolvido seus pensamentos sobre política onde hoje é a Itália, a associação do nome de Maquiavel com o “mal” espalhou-se rapidamente primeiro pela Europa, e com o tempo para todo o mundo. Mas, essa associação é não só um erro como uma injustiça. Afinal, Maquiavel não criou o “mal”. Ele apenas desnudou com absoluta precisão a natureza humana aplicada à arte da política.

Em sua mais importante obra, “O Príncipe”, Maquiavel mostrou a contradição entre governar um Estado e levar, ao mesmo tempo, uma vida moral. Ao tratar sem hipocrisia como um governante deveria agir, ele acabou com uma má fama. Mas o que ele fez foi desenvolver uma teoria política realista que, na verdade, nos mostrou uma desagradável característica do ser humano. A filosofia da arte de governar que ele desenvolveu tinha a intenção de ser científica, por isso não havia espaço para questões morais.

Maquiavel foi um homem que esteve na maior parte de sua vida profundamente envolvido com as questões políticas da Itália renascentista. É dessa experiência e da análise de inúmeros fatos históricos que ele tira os elementos para desenvolver uma obra-prima que mostra a um príncipe ou a um governante como dirigir o Estado e permanecer no poder.


Maquiavel e a filosofia política


Na renascentista Florença, importante centro financeiro e artístico da Europa, nasceu Niccolò Machiavelli em 3 de maio de 1469. Sua infância foi austera em função dos tempos difíceis enfrentados por sua família. A educação de Maquiavel acabou sendo conduzida por letrados em dificuldades financeiras que eram contratados como tutores. Maquiavel também foi um autodidata. Ele lia avidamente os clássicos que ocupavam a biblioteca de seu pai, um dos poucos legados dos tempos bons da família.

Maquiavel cresceu numa época em que Florença emergia como um dos principais centros intelectuais e de negócios europeus. Após uma infância isolada e durante uma juventude solitária, Maquiavel começou a ser notado por conta de suas críticas e ironias especialmente sobre o clero nas reuniões de jovens humanistas na Piazza della Signoria. Apesar de sua condição social modesta, Maquiavel sabia que tinha uma inteligência privilegiada e procurava usá-la em suas zombarias para estabelecer-se como o centro das atenções.

O ambiente em que Maquiavel observou a arte de fazer política e desenvolveu seus pensamentos sobre ela era de uma riqueza única. Florença se tornará o polo do Renascimento graças à riqueza acumulada pelas famílias de banqueiros mercantis, como os Pazzi, os Strozzi e os Médici que lá moravam. A culpa católica do acúmulo da riqueza fez com que os Médici destinassem fortunas para a reforma, construção e decoração das igrejas na cidade, além de patrocinarem obras de arte na arquitetura, na pintura e na literatura. Dinheiro e mecenato atraíram para Florença os talentos e mentes mais privilegiados da época, como Michelangelo, Rafael, Botticelli e Leonardo da Vinci.     

A riqueza e o ambiente humanista, no entanto, não impediram que Florença fosse palco de intrigas e manobras políticas das mais perversas. Conspirações, traições e governantes radicais foram observados de perto por Maquiavel. A ação política do pensador começou quando ele tinha 29 anos, e durante um período politicamente moderado em Florença, como encarregado dos negócios exteriores da cidade. Em pouco tempo já era também secretário da comissão de assuntos militares.

Suas missões diplomáticas às cortes das cidades-estados vizinhas o tornaram um profundo conhecedor das intrigas, armadilhas e tentações da diplomacia. Sua extrema lealdade ao governante oficialmente eleito de Florença e seu desapaixonado intelecto impressionavam. Logo começou a ter missões mais importantes, como a perante a corte francesa de Carlos 8 que garantiu a segurança da cidade que vivia ameaçada pelas pretensões da França de um lado e de Nápoles de outro.

Em 1501, Maquiavel casou-se com Marietta di Luigi Corsini, com quem iria ter cinco filhos. Após o casamento, ele enfrentaria um de seus maiores desafios. César Bórgia, filho do papa, estava usando o exército papal e tropas francesas para criar um novo principado na Itália central. Seus avanços começavam a ameaçar Florença e Maquiavel foi enviado em duas longas missões ao quartel-general de Bórgia. Essa experiência foi essencial para Maquiavel que pôde observar de perto o oportunismo como um atributo essencial de um governante e chegar à importante conclusão de que uma ciência política deve ser distinta e independente de qualquer consideração de ordem moral. Em sua cabeça estavam se formando as ideias centrais de “O Príncipe”. 

O Príncipe e Maquiavel

Nos primeiros anos do século 16 a atuação pública de Maquiavel foi tentar evitar em suas missões diplomáticas que a tempestade política e militar que desabava sobre a Itália atingisse Florença. Ele procurou também fazer com que a cidade-estado tivesse a sua própria milícia formada por cidadãos de seus territórios e não mais por mercenários. Nesses anos, conduziu a retomada militar da cidade de Pisa e chefiou missões diplomáticas na Alemanha e na França, na tentativa de evitar uma guerra contra Florença. Mas, como o próprio Maquiavel reconheceu, quando se tem o poder na luta pelo poder, não há necessidade de negociar. As forças da Santa Aliança (formada pela associação do imperador Maximiliano com o papa) cercaram e avançaram sobre Florença, sendo que a milícia criada por Maquiavel se recusou a enfrentar o exército invasor.


Maquiavel foi destituído do cargo, da cidadania e levado à falência. Alguns meses depois, seu nome foi envolvido em um complô político e ele foi preso e torturado. Após dois meses de prisão e tortura foi solto e teve de viver exilado em sua pequena propriedade rural. Mas ele ainda tinha um plano. Suas habilidades e sua ciência política se fossem expostas ao homem certo o fariam novamente ser valorizado e respeitado. Entre a primavera e o outono de 1513, num inspirado ardor, ele escreveu “O Príncipe”. O livro destina-se a um governante e o aconselha sobre como manter seu governo da forma mais eficiente possível. Sua obra mostrava como funciona a ciência política. Discorre sobre os diferentes tipos de Estado e ensina como um príncipe pode conquistar e manter o domínio sobre um Estado. Em uma passagem, Maquiavel aconselha que, quando um conquistador toma um Estado, ele deve infligir todos os danos que considera necessários de uma vez e não fazê-lo aos poucos, para poder tranquilizar o povo e ganhar seu apoio.

Na segunda metade do livro, Maquiavel trata daquilo que é o seu objetivo principal: as virtudes que o governante deve adquirir e os vícios que deve evitar para manter-se no poder. Em um trecho, cita que um líder deve inspirar ao mesmo tempo amor e ódio, mas por conta da dificuldade de se manter as duas coisas, é preferível do ponto de vista da arte de governar (e mais seguro) ser temido do que amado. Maquiavel desenvolveu seus pensamentos num período turbulento e amoral da história italiana e com uma visão pessimista da natureza humana. Maquiavel mostrou em “O Príncipe” que a moralidade e a ciência política são separadas. Ele apontou a contradição entre governar um Estado e ao mesmo tempo levar uma vida moral.

Maquiavel não conseguiu realizar seu plano de levar o livro ao governante do momento em Florença. As constantes mudanças políticas e as crises na cidade não lhe deram mais uma grande chance política em um alto posto, apesar de ter exercido algumas funções públicas antes de morrer aos 58 anos de idade, doente, em uma precária situação financeira e mais uma vez em desgraça política por ter apoiado o lado errado na instável política florentina
.
Editores do HowStuffWorks.  "HowStuffWorks - Biografia de Maquiavel".  Publicado em 16 de abril de 2009  (atualizado em 17 de abril de 2009) http://pessoas.hsw.uol.com.br/maquiavel.htm  (21 de setembro de 2011)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado!
Sua participação é muito importante.
rar.